sexta-feira, 3 de junho de 2011

Ontem...

Ontem chorei deixei cair minhas máscaras de pele. A minha, de ‘’carrasca –reconfigurada’’. Que até então eram inseparáveis.
Ontem eu quis viajar, mas não fisicamente e sim nas asas do teu Espírito.
Perguntava eu existe prótese pra uma alma amputada? Pode um buraco abrir outro buraco?Minhas perguntas plausíveis me deram o silencio como uma bela resposta. Senti o Espírito acariciar minhas feridas, enquanto o véu da consciência se abria para enfrentar o meu ‘’true’’ eu desconhecido. Caminhei como uma dama de luto. A certa altura, lembro-me de ter fechado os olhos e não os abri até ter certeza de que estava com você. Pensei em tudo que eu tenho vivido e chorei. O tédio tem me consumido. Mesmo assim eu quis acreditar que essa monotonia era uma questão de tempo, e que se eu não apressasse tanto o passo, possivelmente você me alcançaria. Tenho me arriscado cada vez menos. Ontem eu quis dizer não a minha irônica e agressão escondida.
Ontem quis fugir de ti nas páginas do ‘’ensaio sobre a cegueira’’, mal sabia eu que estava na peça principal da minha cegueira e não mais no ensaio. Ontem quis correr, mas te ouvi sussurrar uma coisa bem doce. Era um convite irrecusável. Ir a tua oficina e com as suas ferramentas curar tudo isso, ir buscar o meu antídoto contra a monotonia. Senti a suas fagulhas de serenidade soprando ao pé do meu ouvido. Tu me pegaste e me colocastes para dormir como o meu pai nunca havia feito. Renunciei o meu ego inflamado, os meus ursos e leões que eu tentava matar sem as armas certas. Ontem fui à oficina, fui para entendê-lo e conhecê-lo melhor e saber que nada mereço, mas mesmo assim me amas profundamente. Eu quero que o meu amor seja mais do que um pretexto, e sim um negar, uma possível entrega.
Tristes são esses dias em que faz frio, e o sol não aparece. Quando o meu ‘’talento’’ não é tudo, o seu silêncio vale mais que mil palavras sem sentido de uma vida que se vai. Ontem eu deixei de viver a mil por hora e descansei no teu abraço. Senti que passava as mãos pelos meus cabelos desarrumados, e que eu poderia ficar ali mil anos sentindo os seus carinhos únicos. Ouvindo o nosso silêncio, vendo o meu teto sem céu, o meu céu com nuvens vermelhas e sem o canto dos pássaros do crepúsculo. Ontem fizeste uma reviravolta em cada pedaço do que eu cheguei a ser um dia.  Ontem tu reservaste o silêncio e a doçura que ele me trouxe.
Ontem pude digerir que já ouvi um dia, que nunca iria esquecer os meus olhos, e que me formou desde criança, que mesmo que eu negasse sua existência e o seu amor por mim as estrelas dos céus iriam me lembrar a tua presença. Mesmo quando eu vou embora seu amor luta incansavelmente por mim
Então deixo o ontem ficar no filtro da minha memória e fico cada vez mais convencida de que as minhas verdades não são ciência e nem solidão, mas sim no teu amor que me liberta. Hoje fico aqui com essa ávida espera por ter seus braços e abraços novamente escutando ainda os ecos de um amor escondido por mim, debaixo do tapete nos cantos do meu quarto. E que esses ecos de ontem voltem a soar mais alto. E aqui estou eu, muda mais uma vez. Observando o silêncio que tanto fala.