sábado, 22 de junho de 2013


Ouvi sua voz numa fotografia
Eu imaginei que ela trouxesse o passado
Uma vez que você sabe que não há como voltar
Preciso levar para o outro lado[...]


 Lembrando da brevidade dos momentos. O tempo passou depressa.  A principio, vimos as mudanças acontecerem. Compartilhamos momentos sublimes da infância uns dos outros.dentes caindo, as famosas janelinhas arejadas na boca , amigos indo embora ,mudando de turma,professores se despedindo de nós, espinhas sendo formadas como crateras no rosto, guerras acontecendo entre nós e dentro de nós, meninos e meninas na mesma fase, nem sempre com o mesmo pensamento.
 Havia discussões, apelidos que não nos faziam mal , nada comparado com o bullying de  hoje.O que nos fazia mal de verdade eram os cascudos que levávamos dos maiores do ginásio , ir para a sala da diretora justamente na hora do recreio ou quando chovia, porque não íamos ter educação física .Guerras de verdade? Só se fossem de bolinhas de papel, essa era a nossa batalha. Férias? Servia para sentir saudade dos amigos. Final do ano? Servia para escrevermos cartinhas , até para os que tínhamos menos afeição , escrevíamos coisas piegas , que hoje fazem toda diferença e tem muito significado.Machucados? Só se fossem por causa de joelhos ralados. Broncas? Só, pelo excesso de bagunça em sala de aula. Nada que um fingido e cínico comportamento, um silencio de meio minuto não resolvesse .
Hoje, repaginei foto da memória .
 Falo no plural , porque creio , que falo por todos aqueles que conviveram com você.
Sei que você não pode ler , pois você não sabe como voltar .Só nós , com tentativas inábeis ,puxamos com dor e saudade da nossa memória, lembranças  que te trazem para perto de nós.

Não consigo imaginar o inferno, pois você trouxe um céu de boas recordações e sensações até nós.
 Lembro daquela canção do momento, ortherside /outro lado . A canção que tentávamos cantar e balbuciar o inglês, que não fizemos questão de aprender, saia apenas o começo da musica  mal pronunciado ,na porta da escola algo parecido com: ‘’Halou Halou , I slide’’,muito diferente do que a musica queria dizer : How long, how long will I slide. Porém quem se importava se a letra estava certa ou não?  Importávamos se vivíamos aquilo que o instante nos proporcionava. Fazendo aquela vaquinha para comprar sorvete,só comprávamos se dividíssemos entre todos nós , sem se importar com a baba compartilhada, colocando apelidos ‘’maldosos’’ uns nos outros. Lembro da bunda grande que soltava um pum no Brasil e se você com seu narigão estivesse no Japão , conseguiria aspirar tudo. Inventávamos pro seu Nilo que esquecemos um livro na sala ou que precisávamos ir ao banheiro, só pra ter o prazer de andar entre o corredor escuro da escola por mais um tempo.Quando pediam silêncio na biblioteca fazíamos questão de ir contra as regras , até a inspetora que nos causava temor aparecer.
Os momentos deslizavam como areia entre os dedos, não sabíamos da sua brevidade aqui na terra, pensávamos que por mais que os anos da escola fossem embora, você estaria entre nós .Pensávamos que teríamos tempo de fazer uma aula da saudade ou que todos estaríamos juntos em um só lugar , só pra rir e lembrar das bobagens , pra dizer o que cada um escolheu fazer da vida , só pra lembrar[...]
Não deu tempo. Você saiu do melhor da festa sem dar tempo de se despedir , deixou saudades, não poderia ir depois?Um pouco mais tarde ? Que piada né? Só que essa, foi a mais sem graça que você poderia ter nos contado. Olho para nossos amigos de infância e vejo suas digitais marcadas na memória de cada um , impossível não recordar.
 Sua piada sem graça, só me fez sentir saudade de todo mundo junto , todo mundo pequeno , sem saber dos males da vida e que as perdas seriam maiores que um lápis‘’furtado’’ em sala de aula. Continuo a rir daquilo que nos fazia sorrir juntos, continuo a lembrar depois da sua partida ,que a vida é breve , consigo lembrar de você com alegria, com muita alegria .Eu conseguir trazer você pra perto ,consigo trazer nossa turma para perto ainda que seja nas lembranças . O céu estava bonito no dia que você se foi ,meio choroso por nós e alegre por você .Olhei pro céu e vi as arvores do pouso eterno , pareciam que os anjos estavam sorrindo ,pois você já havia chegado no céu , fazendo o que você mais sabia aqui na terra  , contar piada , falar bobagem e nos fazer feliz .

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Frutos de uma imaginação febril.





Noite da cor da ansiedade e da frustração, tantos pensamentos soltos que nunca vão se traduzir em meras palavras. Tento escrever alguma coisa que faça acordar os homens e mexer ainda mais com a imaginação das crianças. Ouço uma frase recuar no meu interior: ‘’ São tempos difíceis para os sonhadores’’ Fecho os olhos e respiro com alivio por não ter desistido de sonhar e de acreditar nos meus pensamentos utópicos.
Observo a lua nascer e vejo-a sorrindo para mim de um modo meio ameno, ligo a televisão e vejo as noticias nos jornais, preciso de uma bacia para aparar o sangue que jorra da televisão, vejo uma maratona de corredores ‘’anormais’’, uma maratona que invés de atletas, correm paraplégicos de coração, presidiários , grávidas que enfrentam o mundo com sua barriga e a coragem incumbida,cegos,gauches e infidos corredores aflitos , correm atrás do vento e vão enchendo o peito murcho de vazio.
Bem que disseram que as coisas pequenas e simples não são noticiadas em jornais. Penso no seu João lá do Piauí que empilhou muito mais que concreto e segurou colocou a mão na boca para cobrir a falta de dentes,mas mesmo assim não perdeu a pose do melhor sorriso ao ver o seu sonho realizado, e na dona Joana que ama José que merece muito mais que uma bicicleta com pneu careca, e em uma criança que fez o seu primeiro rabisco e veio para casa com um brilho diferente nos olhos. Ou o pai que teve seu filho pródigo nos braços de novo, pessoas recostando sua cabeça nos braços da serenidade e repousando suavemente. Cada toque que é sentido de uma maneira única, uma vida entrelaçada com outra vida, corações batendo palmas venerando o momento de contemplação do momento. Sinfonias desafinadas tocando com maestria, vidas dispensando palavras e que vão continuar se ouvindo pelos olhares infinitos, ainda que isso não passe em programa de televisão nenhum.
Pessoas como eu saem do útero materno e são jogadas no útero gélido social, muitos como eu são abortados, só porque buscam a razão de subsistir.
Sei de todas as coisas que movem o capitalismo, sei das coisas que falharam no socialismo, sei dos problemas sociais, das criançinhas que tiveram seus sonhos coloridos destruídos, a falta de pão, mas a presença de muito circo, a fome de abraços, a falta de dinheiro, a falta dos construtores de pensamentos. O vicio engolindo o amor, o lugar da fraternidade sendo usurpado pela maldade e infindas coisas que sobrepõe às coisas que realmente valem à pena.
O tempo da repressão física ‘’acabou’’, mas e o tempo da repressão mental começou?
Somos bombardeados a todo estante por isso tipo de repressão mental e pelo costume do comodismo a nossa mente não dá um sinal de alarde. Limitação do menor, Velhos que não viveram o que tinham que viver repetem para os mais moços: Vidas medíocres, vil como um cão , nunca chegaram aonde almejam pela meninice, tenho maturidade, já vivi muito nessa vida, e se você for por esse caminho as lamurias serão iguais as minhas.
Pais repetem para os filhos para desistirem das utopias, abortam os sonhos de grandes homens. Os jovens fazem baderna, exageram nos movimentos hippe’s, nos movimentos cristãos, nos movimentos políticos e às vezes são tratados como escórias, mas todos nós temos nossos momentos de glória ainda que se desvaneça rapidamente. Jovens que sofrem repressão por serem considerados meninos demais ouvem sempre por ai a famosa frase: ’’ Jovens, por favor, envelheçam’’. E eu Digo: Maduros, por favor, parem de construir teorias e suposições como se fossem prédios!
Tanta gente por ai tendo idéias abortadas antes mesmo que sejam ratificadas, tem gente que vive repetindo que não pediu pra nascer e se reprimindo, tem gente que nasce simples, mas se ensoberbece com tanto deslumbre assim e o fio de náilon da vida é cortado antes do previsto. O sistema traga qualquer um que tentar criticar, os céticos acham tudo normal, os poetas escrevem e se revoltam no seu interior, psicólogos estudam o comportamento dos homens, sociólogos sendo confundidos por outra filosofia de mundo, mas no final a resolução de um problema não cabe em uma só mão, pelo comodismo, permanecemos no mesmo lugar.
Quem dera os pensamentos tivessem o poder de mudar alguma coisa, o que nos falta é atitude. Escrevo coisas já pensadas por pessoas mais cultas e intelectuais que eu, leio coisas apreciadas por outros e vou seguindo os meus dias buscando cores novas,resoluções colocando as coisas em ordem para que eu caminhe da melhor forma. Vou tentando tirar todo resquício de sadomasoquismo meu, de autoflagelação, de repugnação e agressão escondida. Quem sabe assim poderei me sentir mais livre de mim, mesmo não tendo nenhuma solução aparente pros problemas conhecidos e citados por todos aqueles que pensam a respeito.
Último gole da noite. Vou bebendo um pouco de silencio e conformismo, meus pés titubeiam e não chegam aonde deveriam. Os frutos da minha imaginação febril não têm sido comestível para muitos ultimamente.( Michelle Souza de Jesus)

sábado, 17 de março de 2012

Quando amanhece

A pesada lista dos afazeres alarma antes do alarme e me desperta. Ás vezes durmo e acordo preocupada com os afazeres diários não desfruto da paz. Ás coisas abaláveis se acionam dentro do meu ser e tentam me tirar daquilo que eu posso receber em dias nublados
em dias ensolarados , percebo que a essência dos dias é singular.
Noites de tormenta todos temos. A tempestade de fora é fácil de ser controlada, cobrimos nossa cabeça com um cobertor e o transfiguramos em uma capa invisível, achamos que os monstros que se escondem debaixo da cama logo irão embora se não notarem a nossa presença. Fácil é se esconder em sua fantasias infantis, difícil é crescer por dentro, vencer as feras, eliminar ás magoas, as cicatrizes mentais e tantas outras coisas profundas do interior.
Amanheceu e a tempestade se foi, sobraram resquícios de folha seca sob o chão. Observo os fleches de luz do sol que invadem a janela do meu quarto, os raios contemplam a minha preguiça morna, minha cara amassada ,meus cabelos desalinhados , sinto que Deus está por perto ,sinto seu beijo suave em minhas rugas de aflição.
Vejo o sol nascendo no horizonte, o sol nasce jovem outra vez. O céu se enche de nuvens cinza que logo com o brilho do sol refletido se tornam avermelhadas, um azul cor de sossego com um branco da cor de leite condensado , os pássaros com suas canções suaves , falam ao pé do meu ouvido e me tiram para dançar lentamente ,aos passos de valsa.Sinto a serenidade e suavidade das mãos de Deus sobre a minha cabeça,sobre o meu ser. Minha vontade é me dobrar por inteira diante da sua plenitude e é isso que faço me sinto rendida e em paz, em paz com o céu, em paz comigo, em par com Deus.
Deus me olha nos olhos e me dita poemas. Fico tão embasbacada com tanta beleza e poesia que palavras me faltam nesse momento de luz. Digo a ele que não tenho muito a lhe dar, exceto a minha vida. Vêm-me na mente palavras do rei sábio Salomão: ’’Amo aquele que me ama e quem cedo me procura acha’’.Eu entrego a minha força entronizada com a força dos céus, eu o procuro e eu o vejo de perto, bem de perto. Passamos a noite no Getsêmani,onde ele entregou o cálice de coisas fartas e valorosas a mim . Desenterrei o meu tesouro. Floresci entre os espinhos do meu interior.Brincamos na grama verde e na rede do tempo ,nos envolvemos na simplicidade do espírito , gargalhadas e suspiros de satisfação por estar ao lado dele por um breve tempo. Sinto suas mãos doces guardando seus verbos eternos no meu coração e assim desentupindo as artérias do meu coração e deixando o sangue do amor pulsar livremente. Levanta o meu rosto de bolacha e diz pra mim que as tempestades de dentro também se dissiparam. Eu confio.  
Por vezes sinto o desejo de lhe pedir o impossível, mas aí me falta coragem. Aí peço que me dê só o necessário. Ele me surpreende com medidas que não mereço. Fico muda. Ele me socorre com seu sorriso. E de súbito, as palavras voltam a fazer parte de mim. 
Vi o nascer do sol com olhos e senti com o coração do meu Deus.A beleza que recebi hoje está nesse fantástico nascer do sol , que fazem meus olhos brilhar , e que dão carinho e pureza na alma , uma espécie de conforto particular ,amanhã o nascer do sol estará lá de novo de volta para me aquecer o corpo e iluminar o meu espírito. 



(Sussurro baixinho e digo , Deus obrigado por ter permitido tamanha beleza e amor dentro de mim , caminhamos de mãos dadas a noite toda , entrei os teu jardins ,no seu altar, na beleza da tua santidade, em um pedaçinho da sua glória,pude me deitar e me deleitar no amado da minha alma, sinto inteiramente viva e fervilhante por tamanho conforto e amor dentro do meu coração.Eu te agradeço por permitir que eu me sentisse tão intensa e tão bem ao teu lado. Ao pé do ouvido digo com a voz de veludo : Eu te amo !Se finda a adoração e os anjos dizem amém.)
[Michelle Souza 15/03/2012]

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Certo dia você me chamou de violoncelo, de inicio não aceitei muito talvez pela sua forma gordinha (bem parecida com a minha), ou pelo modo arcaico ou erudito não sei.

Porém naquele entardecer não era um violoncelo, mas uma alma-corpo, que você estava tocando. Naquela tarde a orquestra de sabedoria foi perfeita. Por muitos instantes algumas notas regressaram para a essência do seu eco, algumas atitudes dispensavam palavras. Você mais do que ninguém sabe da minha paixão por palavras, pela contemplação do simples.
Fomos/somos uníssonos, sinfonia desafinada, mas que toca com maestria. Naquela tarde dispensei as palavras e continuei te ouvindo pelos seus olhares infinitos. Nossas tardes crepusculares são como o sol indo se deitar na campina.
A única maneira de me alcançar foi derrubando os meus umbrais com a sua liberdade, com a palavra dita na hora certa.
Fui afastada de mim e levada ao porão da intimidade de mãos dadas com você. E de lá até hoje nunca saímos, é no nosso porão que você cataloga os meus melhores sorrisos, as minhas dores e danos. É no nosso porão (que não tem nada de escuro e nem empoeirado), que a cada dia trazemos mais lembranças, mais gestos, mais sabedoria, menos morbidez, menos insensatez.
O porão que todos conhecem não é um lugar aonde o sol chega ainda mais se for radiante como o brilho dos seus olhos, mas o nosso porão é um lugar onde meu coração fica em repouso e ao mesmo tempo o meu coração bate como se mil cavalos estivessem apostando uma corrida. Aqui a beleza das coisas simples nos tira daquilo que nos torna mórbidos. As coisas por aqui sempre são muito mais do que aparências e afinidades, eu resumo nossa relação-porão em pluralidade bem peculiar.
Comigo você tem mostrado como é ser um grande homem aquele ser humano transparente, que não se refugia atrás das cortinas de fumaça, que mostra as suas maiores fraquezas.Que demonstra o que sente sem grandes pompas.
Lembrei-me de um fragmento de uma das suas cartas dirigidas a mim: ’’ Onde os meus  quadris se comparavam com as belas arvores  que nos recebem dançando e as minhas mãos se comparam ao mais suave vento que vem  trazer a mais leve brisa quando você se sente só’’
Com as suas delicadezas, tenho aprendido abraçar a sabedoria e fazê-la residir no mais intimo do meu coração
Aprendemo-nos,nos ensinamos , somos um pouco clichês, trasbordamos ás vezes por banalidades. Sujamos nossas vestes de poesia e o prazer de viver. Construímos verbos e mais verbos intrasitivos ao redor das nossas (in)certezas.
O que você sente em silêncio eu vou escrevendo. Sobre mim, sobre nós. 
Das coisas que você me diz eu vou escrevendo na folha do meu coração, das coisas que vamos vivendo tudo vai sendo memorizado. Eu escrevo mais o autor dessas entrelinhas é você.
Nesse inverno frio (pro coração) vamos beijar a noite e conversar com a lua e as estrelas que refletem o nosso olhar porque sem elas não somos nada, não por completo.