segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Certo dia você me chamou de violoncelo, de inicio não aceitei muito talvez pela sua forma gordinha (bem parecida com a minha), ou pelo modo arcaico ou erudito não sei.

Porém naquele entardecer não era um violoncelo, mas uma alma-corpo, que você estava tocando. Naquela tarde a orquestra de sabedoria foi perfeita. Por muitos instantes algumas notas regressaram para a essência do seu eco, algumas atitudes dispensavam palavras. Você mais do que ninguém sabe da minha paixão por palavras, pela contemplação do simples.
Fomos/somos uníssonos, sinfonia desafinada, mas que toca com maestria. Naquela tarde dispensei as palavras e continuei te ouvindo pelos seus olhares infinitos. Nossas tardes crepusculares são como o sol indo se deitar na campina.
A única maneira de me alcançar foi derrubando os meus umbrais com a sua liberdade, com a palavra dita na hora certa.
Fui afastada de mim e levada ao porão da intimidade de mãos dadas com você. E de lá até hoje nunca saímos, é no nosso porão que você cataloga os meus melhores sorrisos, as minhas dores e danos. É no nosso porão (que não tem nada de escuro e nem empoeirado), que a cada dia trazemos mais lembranças, mais gestos, mais sabedoria, menos morbidez, menos insensatez.
O porão que todos conhecem não é um lugar aonde o sol chega ainda mais se for radiante como o brilho dos seus olhos, mas o nosso porão é um lugar onde meu coração fica em repouso e ao mesmo tempo o meu coração bate como se mil cavalos estivessem apostando uma corrida. Aqui a beleza das coisas simples nos tira daquilo que nos torna mórbidos. As coisas por aqui sempre são muito mais do que aparências e afinidades, eu resumo nossa relação-porão em pluralidade bem peculiar.
Comigo você tem mostrado como é ser um grande homem aquele ser humano transparente, que não se refugia atrás das cortinas de fumaça, que mostra as suas maiores fraquezas.Que demonstra o que sente sem grandes pompas.
Lembrei-me de um fragmento de uma das suas cartas dirigidas a mim: ’’ Onde os meus  quadris se comparavam com as belas arvores  que nos recebem dançando e as minhas mãos se comparam ao mais suave vento que vem  trazer a mais leve brisa quando você se sente só’’
Com as suas delicadezas, tenho aprendido abraçar a sabedoria e fazê-la residir no mais intimo do meu coração
Aprendemo-nos,nos ensinamos , somos um pouco clichês, trasbordamos ás vezes por banalidades. Sujamos nossas vestes de poesia e o prazer de viver. Construímos verbos e mais verbos intrasitivos ao redor das nossas (in)certezas.
O que você sente em silêncio eu vou escrevendo. Sobre mim, sobre nós. 
Das coisas que você me diz eu vou escrevendo na folha do meu coração, das coisas que vamos vivendo tudo vai sendo memorizado. Eu escrevo mais o autor dessas entrelinhas é você.
Nesse inverno frio (pro coração) vamos beijar a noite e conversar com a lua e as estrelas que refletem o nosso olhar porque sem elas não somos nada, não por completo.