Ouvi sua voz numa
fotografia
Eu imaginei que ela trouxesse o passado
Uma vez que você sabe que não há como voltar
Preciso levar para o outro lado[...]
Havia discussões, apelidos que não nos faziam mal , nada comparado com o bullying de hoje.O que nos fazia mal de verdade eram os cascudos que levávamos dos maiores do ginásio , ir para a sala da diretora justamente na hora do recreio ou quando chovia, porque não íamos ter educação física .Guerras de verdade? Só se fossem de bolinhas de papel, essa era a nossa batalha. Férias? Servia para sentir saudade dos amigos. Final do ano? Servia para escrevermos cartinhas , até para os que tínhamos menos afeição , escrevíamos coisas piegas , que hoje fazem toda diferença e tem muito significado.Machucados? Só se fossem por causa de joelhos ralados. Broncas? Só, pelo excesso de bagunça em sala de aula. Nada que um fingido e cínico comportamento, um silencio de meio minuto não resolvesse .
Hoje,
repaginei foto da memória .
Falo no plural , porque creio , que falo por
todos aqueles que conviveram com você.
Sei que
você não pode ler , pois você não sabe como voltar .Só nós , com tentativas
inábeis ,puxamos com dor e saudade da nossa memória, lembranças que te trazem para perto de nós.
Não
consigo imaginar o inferno, pois você trouxe um céu de boas recordações e
sensações até nós.
Lembro daquela canção do momento, ortherside
/outro lado . A canção que tentávamos cantar e balbuciar o inglês, que não
fizemos questão de aprender, saia apenas o começo da musica mal pronunciado ,na porta da escola algo
parecido com: ‘’Halou Halou , I slide’’,muito diferente do que a musica queria
dizer : How long, how long will I slide. Porém quem se
importava se a letra estava certa ou não?
Importávamos se vivíamos aquilo que o instante nos proporcionava. Fazendo
aquela vaquinha para comprar sorvete,só comprávamos se dividíssemos entre todos
nós , sem se importar com a baba compartilhada, colocando apelidos ‘’maldosos’’
uns nos outros. Lembro da bunda grande que soltava um pum no Brasil e se você
com seu narigão estivesse no Japão , conseguiria aspirar tudo. Inventávamos pro
seu Nilo que esquecemos um livro na sala ou que precisávamos ir ao banheiro, só
pra ter o prazer de andar entre o corredor escuro da escola por mais um tempo.Quando
pediam silêncio na biblioteca fazíamos questão de ir contra as regras , até a
inspetora que nos causava temor aparecer.
Os momentos deslizavam como areia entre os dedos,
não sabíamos da sua brevidade aqui na terra, pensávamos que por mais que os
anos da escola fossem embora, você estaria entre nós .Pensávamos que teríamos
tempo de fazer uma aula da saudade ou que todos estaríamos juntos em um só
lugar , só pra rir e lembrar das bobagens , pra dizer o que cada um escolheu
fazer da vida , só pra lembrar[...]
Não deu tempo. Você saiu do melhor da festa sem
dar tempo de se despedir , deixou saudades, não poderia ir depois?Um pouco mais
tarde ? Que piada né? Só que essa, foi a mais sem graça que você poderia ter
nos contado. Olho para nossos amigos de infância e vejo suas digitais marcadas
na memória de cada um , impossível não recordar.
Sua piada sem graça, só me fez sentir saudade
de todo mundo junto , todo mundo pequeno , sem saber dos males da vida e que as
perdas seriam maiores que um lápis‘’furtado’’ em sala de aula. Continuo a rir
daquilo que nos fazia sorrir juntos, continuo a lembrar depois da sua partida
,que a vida é breve , consigo lembrar de você com alegria, com muita alegria .Eu
conseguir trazer você pra perto ,consigo trazer nossa turma para perto ainda
que seja nas lembranças . O céu estava bonito no dia que você se foi ,meio
choroso por nós e alegre por você .Olhei pro céu e vi as arvores do pouso
eterno , pareciam que os anjos estavam sorrindo ,pois você já havia chegado no
céu , fazendo o que você mais sabia aqui na terra , contar piada , falar bobagem e nos fazer
feliz .